Francisco, meu filho mais velho, com doze anos, sabia exatamente o que eu estava querendo fazer.
- Posso levar para ele, mãe?
- Sim, mas tenha cuidado. Eu o adverti e lhe entreguei o dinheiro.
Eu prestei atenção, pelo espelho, enquanto meu filho se aproximou do homem, e com um sorriso tímido, lhe entregou o dinheiro.
Eu vi o homem, assustado, levantar-se, pegar o dinheiro e guardar no bolso de trás.
- Bem, - pensei comigo mesma - pelo menos agora ele poderá comer alguma coisa.
Me senti satisfeita e orgulhosa de mim mesma. Eu tinha feito uma boa ação e agora eu poderia continuar meu dia.
Quando Francisco voltou ao carro, olhou-me com tristeza, os olhos suplicantes, e disse:
- Mãe, o cachorrinho está com muito calor.
Eu sabia que tinha que fazer mais. E pedi ao Francisco:
- Volte e diga-lhe para ficar por ali, estaremos de volta em 15 minutos.
Francisco saiu do carro e correu até o desconhecido tatuado. Eu pude notar como o homem estava surpreso. Mas concordou.
Corremos até o supermercado mais próximo. Compramos alguma comida; um saco de ração e uma vasilha de água para o cachorrinho; duas garrafas de água (uma para o cão, uma para o Sr. Tatuagem) e mais alguns biscoitos para o homem.
Voltamos rapidamente ao ponto onde o deixamos, e lá estava ele, esperando imóvel.
E ninguém mais parava para ele. Com as mãos tremendo, eu agarrei os sacos e sai do carro, todas as minhas quatro crianças seguiram-me, cada uma carregando um “presente”. Enquanto andávamos até ele, eu tive um pequeno receio:
E se ele for perigoso?
Quando olhei em seus olhos vi algo que me assustou e me deixou envergonhada por meu julgamento. Eu vi lágrimas. Ele lutava, como um menino, para segurar as lágrimas.
Há quanto tempo ninguém mostra alguma bondade com este homem?
Eu disse a ele que eu esperava que não estivesse muito pesado para ele carregar e mostrei o que tínhamos trazido.
Ele parecia uma criança no Natal. Quando peguei a vasilha para água, ele a arrebatou de minhas mãos como se fosse ouro e me disse que não tinha como dar água a seu cão.
Meus olhos encheram-se de lágrimas quando ele disse:
- Madame, eu nem sei o que dizer. Então colocou as mãos sobre a cabeça e começou a chorar.
Este homem, este homem "assustador", era tão delicado, tão doce, tão humilde.
Eu sorri, me segurando e disse:
- Simplesmente não diga nada.
Enquanto nos afastávamos, pude percebê-lo ajoelhado, os braços em torno de seu cão, beijando seu focinho e sorrindo.
Eu tenho tanto... minhas preocupações agora me parecem tão tolas e insignificantes.
Eu tenho um lar, um bom marido, quatro belas e sadias crianças. Eu tenho uma cama confortável. Eu gostaria de saber onde aquele homem dormiria à noite.
Minha filha, Clara, virou-se para mim e disse com a voz muito doce:
- Mãe, estou me sentindo tão bem...
Embora pareça que nós tenhamos ajudado, o homem com suas tatuagens é que nos deu um presente, do qual jamais me esquecerei. Ele ensinou que não importa a aparência, dentro de cada um de nós existe um ser humano merecedor de bondade, de compaixão, de aceitação.
A cada noite eu oro para o homem com as tatuagens e seu cão. E eu espero que, ao longo de minha vida, Deus envie mais pessoas como ele para me lembrar do que é realmente importante.
“Aprendemos a voar como pássaros, a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”. - Martin Luther King
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